Financiamento imobiliário pela poupança cresce 53% em 2021, chegando ao recorde de R$ 208,8 bilhões
Juros baixos e comportamento do consumo das famílias durante a pandemia favoreceram a alta. Para 2022, é previstauma queda no volume de crédito concedido, pela retomada dos juros altos para conter a inflação.
06/04/2022
–
Saldo das cadernetas de poupança
Os saldos de depósitos nas cadernetas de poupança (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo – SBPE) mantiveram-se acima de R$ 1 trilhão em 2020 e 2021. A trajetória decrescimento foi iniciada em 2016 e se acelerou mais recentemente. A movimentação de recursos para as cadernetas é explicada pela queda da taxa básica de juros (Selic) em 2020, políticaque foi adotada para combater os efeitos negativos da pandemia sobre o consumo e investimento, e pela piora na remuneração dos ativos financeiros, fato que também estava relacionadoà crise causada pela pandemia.
–
Saldo dos depósitos nas cadernetas de poupança, SBPE e rural, em R$ milhões a preços constantes**, Brasil
Fonte: Banco Central do Brasil e Abecip. Notas: (*) projeção; (**) a preços de fevereiro de 2022. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.
–
Captação líquida
A captação líquida de recursos para as cadernetas permaneceu positiva até o momento em que as condições dadas pela pandemia se alteraram. Ao final de 2021, em razão da aceleraçãoda inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil elevou a taxa de juros da economia, reduzindo rápida e drasticamente a vantagem relativa das cadernetasde poupança. Ao final de junho de 2021, a remuneração anual das cadernetas de poupança estava em 2,40% ao ano, enquanto a Selic estava em 4,15% ao ano, ou seja, as aplicaçõespagavam 1,75 ponto percentual a menos do que os títulos públicos.
No início de abril de 2022, a remuneração das cadernetas de poupança está em 7,0% ao ano, e a taxa Selic está em 11,65%, indicando uma diferença de 4,65 pontos percentuais a favordas aplicações atreladas à Selic. Por essa razão, os saques superaram os depósitos em R$ 35,5 bilhões ainda em 2021. Nos primeiros dois meses de 2022, a captação líquida já foi negativaem R$ 25,0 bilhões. Projetando essa tendência, o ano de 2022 deve fechar com saques superiores aos depósitos, na casa de R$ 93,0 bilhões.
–
Captação líquida das cadernetas de poupança, SBPE e rural, em R$ milhões a preços constantes**, Brasil
Fonte: Banco Central do Brasil e Abecip. Notas: (*) projeção; (**) a preços de fevereiro de 2022. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.
–
Empréstimos
As restrições sanitárias ao convívio social alteraram profundamente o comportamento das famílias brasileiras durante a pandemia. Elas reduziram drasticamente suas despesas com lazer eviagens, permanecendo mais tempo que o habitual em suas residências. A pouca circulação no meio urbano também reduziu as despesas com combustíveis e manutenção de automóveis.
Mesmo com o aumento do desemprego e a queda no ritmo de expansão da massa de rendimentos do trabalho, a redução forçada de despesas levou à formação de uma poupançafinanceira extra nas famílias brasileiras, principalmente nas classes de renda média e alta. Grande parte desse volume de recursos financeiros foi depositada nas cadernetas de poupança. Isso elevou a disponibilidade de crédito para o financiamento imobiliário, e os bancos ampliaram suas ofertas para incorporadoras e construtoras.
Do outro lado desse mercado também houve forte movimentação ligada às novas condições impostas pela pandemia. As famílias, de uma forma geral, procuraram casas maiores paraacomodar o home office e o homeschooling. Aqueles que tinham maior liquidez procuraram adquirir imóveis como investimento em ativo real, fugindo das incertezas econômicas quepairavam em 2020 e 2021 e aproveitando o momento de valorização imobiliária.
Naturalmente, cresceu a demanda por crédito que, com taxas de financiamento em níveis muito baixos – na verdade os menores da história do financiamento habitacional brasileiro –, absorveu rapidamente o aumento da oferta proporcionada pelos bancos. O mercado imobiliário reagiu com velocidade, colocando no mercado um número elevado de lançamentosimobiliários, um processo que foi retroalimentado pelo sucesso nas vendas em algumas regiões do país.
–
Número de unidades habitacionais financiadas pelo SBPE, construção e reformas, Brasil
Fonte: Banco Central do Brasil e Abecip. Notas: (*) projeção. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.
–
O valor dos empréstimos para construção e para aquisição de imóveis novos e usados se expandiu de forma intensa. Entre 2019 e 2020, o volume de recursos emprestados cresceu 52,6%, passando de R$ 89,4 bilhões para R$ 136,5 bilhões (valores a preços constantes de fevereiro de 2022). No último ano, a expansão alcançou 53,0% em termos reais, elevando o volume decrédito concedido pelo SBPE para o recorde histórico de R$ 208,8 bilhões – o recorde anterior havia sido de R$ 174 bilhões em 2013.
–
Valor das unidades habitacionais financiadas pelo SBPE, construção e reformas, em R$ milhões**, Brasil
Fonte: Banco Central do Brasil e Abecip. Notas: (*) projeção; (**) a preços de fevereiro de 2022. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.
–
O aumento das taxas de juros e a aceleração da inflação ao final de 2021 e início de 2022, contudo, estão determinando uma reversão rápida da tendência nesse mercado, que tambémestá enfrentando novamente a competição dos setores de turismo, lazer, educação e saúde pela renda das famílias das classes média e alta. Ainda foi negociado um número elevado definanciamentos (em torno de 56 mil unidades por mês) nos primeiros dois meses de 2022, o que poderia sugerir um ano com volume de crédito excepcionalmente elevado, maior que osverificados em 2020, 2013 e 2014.
Contudo, os juros altos e a inflação elevada ainda não alcançaram o mercado de crédito em toda sua extensão. O maior impacto se dará nos próximos meses, com a redução da oferta decrédito para ajustar a posição dos bancos. Nos meses de janeiro e fevereiro de 2022, a captação negativa das cadernetas de poupança foi de R$ 25,0 bilhões, que se soma ao resultadonegativo de 2021, com a saída de R$ 36,1 bilhões das cadernetas de poupança.
Ao longo de 2022, com a inflação elevada, prevê-se uma rentabilidade real negativa das cadernetas de poupança, e será muito difícil captar recursos com taxas de juros em aplicações debaixo risco entre 4 e 5 pontos acima da remuneração da poupança. Por isso, projeta-se uma perda líquida de depósitos na casa de R$ 93 bilhões. O impacto disso na oferta de crédito deveser de 46,0%, trazendo o volume de recursos financiados para R$ 113 bilhões, um patamar inferior ao de 2020, mas ainda melhor que o de 2019.
Comments